segunda-feira, 18 de março de 2024

QJMotor SRT 700X à prova

São quase dez da manhã de mais uma sexta-feira de inverno. Lá fora, árvores despidas de folha e cor tentam irremediavelmente romper um matinal espesso manto de cinza. Chuvisca. O asfalto está húmido. Depois de uns dias de sol e temperaturas amenas, estes dias podem saber a desolação. O corpo sente-se. O escape estala e não aprecia este tempo húmido e desagradável.

Foto: Lcworks

“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”, dizia amiúde a minha avó na sua infinita sabedoria. Uma espécie de “carpe diem” ou “memento mori” das nossas aldeias. No fundo, recordar que nada será para sempre. E este inverno também chega por estes dias ao seu terminus. Precisamente as 3:05 do dia 20 de Março. Notem que inverno 2024 só houve este. Aproveitaram-no bem? 

Foto: Lcworks

A vida é assim, composta de mudança permanente. E na vida que a vida do motociclismo tem não é diferente. Marcas definham e desaparecem nos Invernos das suas vidas. E outras nascem, renovadas e com propostas alternativas. 

LIVRE E SEM PRECONCEITOS 
Conferimos aqui (link) e aqui (link) um amplo destaque ao nascimento para o motocilsimo português da QJMotor. Como já todos saberão esta é a empresa de motociclos do Grupo Geely – fabricante líder de automóveis, que controla importantes marcas, como a Volvo Cars, a Polestar, a Lotus, a Geely Auto, a Lynk & Co e a Proton Cars e reclama ter nascida para “para fazer motos para pessoas de hoje: livres, inconformadas; e sem preconceitos”. 

Foto: Lcworks

A QJMotor SRT 700X é honesta e não esconde grandes segredos. Assume-se como uma moto trail de média cilindrada e desejo de aventura. O conjunto, muito bem equipado, monta num quadro tubular um motor bicilindrico paralelo (698cc, 67Nm, 74CV). 

Foto: Lcworks

A opção aqui foi por uma jante de raios de 19” na roda dianteira, estando o amortecimento a cabo de suspensões Marzocchi totalmente ajustáveis - apenas pré-carga na traseira - sendo a travagem da responsabilidade da inquestionável Brembo. 

Foto: Lcworks

Destaque ainda para pneus de qualidade, Metzeler Tourance, iluminação full led e painel de instrumentos com sensor crepuscular. De serie contem ainda com protectores da mãos e de motor, bem como punhos e assentos aquecidos. Uauuuuuuuu, sentimos que estamos perante uma moto que sorri ao topo de gama. 

SEDE DE VIAGEM 
O desenho da moto impacta, envolve. Envolvente é também a posição de condução. O guiador algo curto e os punhos ligeiramente fechados conferem personalidade ao conjunto. Nota de destaque imediata para uma protecção aerodinâmica superior, num conjunto que revelou um centro de gravidade algo elevado num peso pouco simpático de quase 240 kg em ordem de marcha. 

Foto: Lcworks

Assim, a SRT 700X, vem com vontade de viagem. Na cidade a moto revela algum corpo e requer adaptação, tal como a condução fora de estrada se for sinuosa e desafiante. No entanto, assim que o espaço “abre” os elevados níveis de conforto sobressaem e revelam um conjunto onde a qualidade de suspensões e travagem podem fazer a diferença. 

Foto: Lcworks

A tudo isto a marca soma a oferta do conjunto de três malas originais e uns incríveis 6 (seis) anos de garantia. A QJMotor SRT 700X revela-se assim boa também na carteira, solicitando a marca um valor inferior a 8.000€ por tanta moto. Um conjunto que reclamou pouco menos de cinco litros do líquido inflamável dos nossos sonhos, por cada cem quilómetros de vida fácil e confortável.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

BMW R 1300 GS à prova

Com esta “inesperada sensação de leveza e agilidade, com este comportamento em estrada e conforto, com a possibilidade de sair do asfalto, fica aberto um leque de oportunidades únicas e emocionantes, num campo totalmente novo em termos de condução, um campo onde concorre virtualmente sem rivais”. Calma, miúdos. Não se deixem “dropinar” facilmente. De que moto estaremos a falar neste primeiro paragrafo? Quem terá escrito aquelas palavras? Quando e onde? 

Foto: Gonçalo Fabião

Duvidas e perguntas. É útil ter algumas das primeiras e elaborar muitas das segundas. Porque em bom rigor, na vida, certezas, certezas, temos apenas três: a morte, os impostos e que a sigla GS da BMW continuará a ser a referência no mototurismo de aventura. Mas…, como é que marca alemã consegue este resultado ao fim de mais de quarenta anos? 

SEGUE O TEU PRÓPRIO CAMINHO
Por falar em vida e morte, a vida apresenta-se cada vez mais difícil para a palavra escrita. Escrever está pela hora da morte. Literalmente. As motivações para o “leio depois” são cada vez mais e maiores. Se ler está difícil, imaginem escrever. Agora imaginem escrever quando aparentemente já tudo foi dito sobre determinada realidade. Ou não. Pois, Ou não. É aqui que está a oportunidade. 

Foto: Gonçalo Fabião

Oportunidade foi também o que a BMW viu ao evitar o último Salão de Milão. Semanas antes anunciou a sua nova R 1300 GS. “Roubou a cena” como se diz no surf. Quando o Salão abriu portas já muitas das unidades estavam nos concessionários da marca aguardando a nova morada. 

Foto: Gonçalo Fabião

Hoje a moto tem cerca de seis meses. Já todos sabemos que estamos perante uma moto que basicamente partiu de uma folha em branco. É uma moto nova. Desenho totalmente revisto e com a necessária e até saudável polémica. Um motor praticamente novo na sua totalidade (145cv, 149Nm). Caixa de velocidades redesenhada e recolocada, garantindo desde logo um centro de gravidade ao boxer e ao conjunto, ainda mais baixos. 

Foto: Gonçalo Fabião

Suspensões também redesenhadas e evoluídas na continuidade ao nível da soberba electrónica que as auxilia. Mesa de direcção nova. Com a evolução, o eixo dianteiro apresenta um comportamento ainda com a moto parada e a baixas velocidades absolutamente digno de uma moto de enduro. Notem que este detalhe facilita e de que maneira a vida na cidade, local onde algumas GS acabam por passar demasiado tempo. O quadro também é basicamente novo, em especial o sub-quadro traseiro. Tudo isto concorre para produzir um conjunto bastante, estreito, esguio e “em boa forma”. Há músculo sim, todavia bem trabalhado e muito definido (237 Kg a seco e não a cheio como alguns com outras responsabilidades por lapso escrevem). 

ACREDITAR QUE NÃO EXISTEM OBSTÁCULOS 
A natureza única da BMW R 1300 GS sente-se ao primeiro olhar. Esteve bem a marca, na nossa opinião, ao rasgar ao nível da estética. Esta desconstrução estética apenas está ao dispor dos grandes líderes. A BMW deu-se ao luxo de romper. Deu-se ao privilégio de se dar à crítica e a até à maledicência. Este à vontade é só para alguns. Parabéns à marca. 

Foto: Gonçalo Fabião

Já a personalidade singular da BMW R 1300 GS sente-se nos primeiros quilómetros. Ao início até parece que “falta moto” à nossa frente. Rapidamente nos adaptamos. E rapidamente ganhamos confiança com o tal centro gravidade muito baixo e que produz as melhores sensações. A protecção aerodinâmica ganha vida e eficácia com o novo ecrã ajustado eletronicamente. Apenas mais um ponto positivo. 

Foto: Gonçalo Fabião

O equilíbrio de todo o conjunto torna fácil a vida na cidade. Todavia é fora dela que a BMW R 1300 GS se expressa melhor e retiramos enfim partido da eletrónica e dos diferentes modos de condução: Eco, Rain, Road e Dynamic. Esta é daquelas motos em que os quilómetros efetuados nunca chegam. A vida fora de estrada, pelo menos em estradão, é tão eficaz e segura como no asfalto. E estamos certos que nas “unhas” certas a R 1300 GS pode ser muito gratificante numa condução em terrenos mais trialieros. Quando chegamos ao fim do dia só lamentamos não ter andado ainda mais. 

Foto: Gonçalo Fabião

Nota final de destaque para a rápida habituação ao sistema de cruise control adaptativo, mais valia superior de segurança e sistema de fácil habituação. Os diversos sensores de radar possibilitam ainda a utilização de um sistema de anti-colisão – electrónica que inicia uma travagem de emergência quando for assinalada a aproximação rápida a um qualquer objecto – que exige alguma habituação e possivelmente uma melhor parametrização no futuro. 

A HISTÓRIA É ESCRITA PELOS VENCEDORES 
Ainda se lembram do início deste texto? Com esta “inesperada sensação de leveza e agilidade, com este comportamento em estrada e conforto, com a possibilidade de sair do asfalto, fica aberto um leque de oportunidades únicas e emocionantes, num campo totalmente novo em termos de condução, um campo onde concorre virtualmente sem rivais”. 

Foto: Gonçalo Fabião

Sabem quem escreveu estas palavras? Foi o jornalista da norte-americana Motorcyclist que esteve presente, em 1980, na apresentação internacional da primeira GS, a BMW R 80 G/S. De forma absolutamente inacreditável, mais de 40 anos depois, estas palavras são absolutamente perfeitas para descrever o que sentimos com a nova R 1300 GS. Porque na verdade a História é escrita pelos vencedores. E esta moto chega também para nos contar a evolução do conceito de mototurismo de aventura, ao longo das últimas quase cinco décadas. 

Foto: Gonçalo Fabião

Em bom rigor esta BMW R 1300 GS não veio apenas rever e actualizar o modelo. A R 1300 faz muito mais do que isso. Vem rever, atualizar e redefinir o conceito de mototurismo de aventura. Numa palavra, estamos perante o estado da arte. O estado da arte não só do mototurismo de aventura como do próprio motociclismo em si. Sim: adorei! 

Foto: Gonçalo Fabião

A R 1300 GS reclamou uns muito aceitáveis cinco litros e meio do liquido inflamável que satisfaz os nossos sonhos. A marca solicita uma transferência bancaria de 20.750€ pela versão base da nova GS, sendo que esta exclusiva Option 719 Tramuntana, plena de extras, pode ultrapassar os 30.000€.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Voge 525DSX à prova

Início do mês de Janeiro, 16:30. Sei que na melhor das hipóteses terei mais uns sessenta minutos de luz, mais segundo menos segundo. Nas imediações do histórico autódromo do Estoril, está feito o trabalho com a Voge 525DSX. Fotografias realizadas pelo Gonçalo Fabião. O habitual desafiante live na página facebook deste ESCAPE está terminado. Daquele local as hipóteses de prazer configuram-se como múltiplas. Sei que o asfalto está algo húmido e escorregadio, molhado até. Todavia uma luz doirada e parva teima em penetrar as nuvens algo cinzentas. Não há previsão de chuva para a próxima hora e dali rumo pelo que resta da Estrada Nacional 9 (link). Sem destino. 


Um par de quilómetros para norte e aceito sem regatear o convite da sinalética e rumo a oeste pela Nacional 9-1. É a famosa “Estrada da Lagoa azul”, outrora paraíso do campeonato mundial de ralies. Hoje é apenas mais um troço de estrada infantilizado com barreiras várias, algumas delas até perigosa, supostamente para que o local fique mais civilizado e seguro. 


Antes mesmo de chegar à da Malveira da Serra rumo de novo de Norte. Abraço com carinho o coração da Serra de Sintra por uma estada sem número ou nome. Coisas nossas. Estou longe de me sentir perdido, na verdade. E quem me encontra mesmo é a denominada Estrada da Peninha que conduz ao suposto santuário com o mesmo nome. 


Cenas da eternamente misteriosa Sintra. Estive anos sem passar por aqui e aqui e agora é a segunda vez que cá passo em poucos dias. E a magia acontece. São quase cinco da tarde de um dia de inverno e sol já falece lá longe no horizonte. Paro a Voge 525DSX numa nesga de luz amarela que teima em romper o verde-escuro que domina a paisagem. E fico apenas ali. Absorvo a clorofila intensa de todas as maneiras que posso. Roubo um momento para uma fotografia. Uma imagem em movimento para o instagram, também. 


O tempo não para e conforme cheguei, parto. Já na Nacional 247 (link) engano o Cabo da Roca e rumo ao Guincho. Sigo. Há o Raso. O Cabo. E quando o sol se preparava para beijar o horizonte rumo ao seu (para nós) sono diário, nuvens massivas assaltam o momento e de forma abrupta apagam a luz que ainda me alumia. 

URBANA ATREVIDA 
São fatias de realidade assim que compõem o nosso bolo amassado de motociclismo. Uma hora, meia dúzia de parágrafos neste vosso blogue e uma memória que fica. E se deseja que fique até a eternidade, emoldurada por uns singelos quatrocentos e noventa e quatro centímetro cúbicos. 


A Voge 525DSX é uma trail urbana que monta num quadro perimetral em tubos de aço – com sub-quadro desmontável, um motor bicilindrico paralelo (48CV, 45Nm). Este esqueleto vem superiormente equipado com uma forquilha invertida Kayaba de 41 mm regulável em pré-carga e extensão com um curso de 150 mm. 


A Suspensão traseira conta com um monoamortecedor com articulação ajustável e curso total 145mm. A travagem é Nissin com ABS desconectável na roda traseira. Os pneus são Metzeler Tourance. Também existem dois modos de condução (Eco e Sport – pouca diferença entre ambos, notem), sendo ainda o controlo de tracção também ele desconectável. Este conjunto a seco pesa uns meros 190Kg. e em ordem de marcha contem com um peso a rondar os 205Kg


O desenho da 525 DSX é atrevido, elegante e muito respeitável. O acesso à moto é simples para o condutor médio. A moto parada move-se com elevado grau de facilidade. A habitabilidade é simpática com uma posição de condução correta. Esta é daquelas motos que podemos passar horas na busca de defeitos só porque sim todavia esta actividade é inútil: aqui não vão encontrar fragilidades. Já sabemos que as Voge são, regra geral, muito certinhas ao nível da ciclística. E aqui, apesar de não haver deslumbre com o comportamento do conjunto, há um elevado e surpreendente nível de maturidade numa moto de uma marca tão jovem, pelo menos para nós motociclista das Europa ocidental. 

EFICÁCIA E ECONOMIA 
Assim, contem com um motor bem cheio desde regimes mais baixos. Quadro simples todavia escorreito. Isto produz uma utilização muito fácil e até divertida de todo o conjunto, em especial em espaços apertados, locais onde esta moto vai brilhar. Gostei também da travagem. 


A utilização fora de estrada desta Voge foi bastante limitada. A facilidade de utilização a baixa velocidade voltou a surpreender. Todavia olhamos para esta moto muito mais como uma opção de mobilidade urbana do que aventura sem limites. O off road é sim possível, no entanto mesmo dentro da marca existem outra opções provavelmente mas interessantes como podem, aliás, conhecer aqui (link) e aqui (link). 



A Voge 525DSX, para além do para-brisas regulável manualmente em duas posições sem recurso a ferramentas que garante uma proteção razoável contra os elementos, conta ainda com a denominada iluminação Full LED e faróis auxiliares. Os instrumentos surgem num ecrã LCD de 7’’ a cores, onde se inclui monitorização da pressão dos pneus, com alertas por esvaziamento rápido ou sobreaquecimento. Há ainda conectividade Bluetooth com o telefone móvel e tomadas de corrente USB (5V) e de isqueiro (12V) em ambos os lados da carenagem. 


A 525DSX reclamou pouco menos de quatro litros de sumo doirado de dinossauro por cada cem quilómetros de mobilidade versátil. A marca solícita uma transferência bancaria de apenas 6.187€ para que a levem convosco onde mais vos for útil. Notem que está ainda em vigor até ao fim deste mês de Janeiro uma promoção do conjunto de malas e top case originais em alumínio por 650€ ou seja, cerca de 50% de desconto.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

VOGE 350AC - Haverá amor como o primeiro?

Hábil, comprometida, apaixonada, inventiva, resiliente e resistente. Foi aqui e assim (link) que vos apresentamos a Miss Yoshimura. E hoje é ela que tem a palavra escrita. 


Quando foi a última vez que fizeste algo pela primeira vez? A primeira nunca se esquece, e esta foi a minha primeira experiência, enquanto motociclista! Partilhar experiências tem dois efeitos, reforça a nossa memória e encoraja outras pessoas, quem sabe, a fazer o mesmo! 

Chegou o dia em que, com a indescritível ajuda do Pedro, tive a primeira moto, que não a da escola de condução, para praticar e sentir a adrenalina de ter as mãos num guiador. Confesso que estava num misto de ansiedade e de medo, pois sabia que não iria ter o meu instrutor no ouvido, através de um auricular, e também não teria um colete amarelo fluorescente, que permitia os outros condutores verem que sou aprendiz. Na verdade, ainda sou aprendiz, pois até agora, e citando palavras do Pedro, estive a aprender a passar num exame de condução. Agora vou começar a aprender a andar de moto! 

Aqui está ela, a Voge 350AC! Segundo quem está familiarizado com este mundo do motociclismo, esta moto é a ideal para recém encartados, e foi isso que quisemos comprovar. Chegamos à garagem e ouço, prontamente, um “vá, toma! Está aqui a chave! Vai ao piso de baixo e volta”. Os meus olhos arregalarem-se logo e pensei “Como assim? Descer uma rampa de garagem? Conduzir uma moto que não é da escola de condução? À frente do Pedro? Já?” Ok, se é para fazer, faz-se! Esta sou eu. Reajo e vou! Subi e desci duas vezes, o piso da minha garagem. Wow! Está mesmo a acontecer. Note-se que, mesmo com três motos na garagem, enquanto não obtive a minha licença de condução, nunca me foi dada uma moto para as mãos. 

BABY STEPS 
O dia seguinte estava planeado de forma que eu tivesse momentos acompanha e momentos a sós. O plano foi seguir o Pedro até ao local de trabalho, cada um na sua moto, e depois ir, à minha vontade, para onde eu quisesse. “Fica tranquila que eu vou muito devagar. Só tens de seguir o pneu da minha moto e manteres-te o mais próxima de mim possível, dentro dos limites de segurança!”. A definição de devagar ficou logo ali esclarecida, nos primeiros dois quilómetros. Eu ia mesmo devagar. O meu cérebro estava a acordar para várias realidades num só instante: colocar as mudanças, perceber o peso da moto, saber onde são os piscas, lembrar do que fazer em cada situação. Eu já não tinha o Mário (maravilhoso instrutor de condução) no meu ouvido, para me dar feedback. 


O principal foi feito, manter a calma e não “panicar”. Estava a comportar-me muito bem. Tão bem que fui logo apelidada de “caracol”. Deixei o Pedro no trabalho, enfrentado um pouco da segunda circular e entrando no coração da cidade de Lisboa, às 8h da manhã. Uma vez sozinha, tinha de pensar no meu trajeto, sem GPS. Fui conhecendo melhor a moto, fui sentindo-me mais à vontade para seguir em frente, e até para perceber alguns aspetos que entendi serem um pouco estranhos, como por exemplo, os espelhos não se manterem estáveis. Enfim, seguindo rumo à marginal do rio, quis mesmo sentir a sensação de o ter, ao rio, mesmo ali ao lado, num belo dia de sol de quase inverno, como vejo muitos motociclistas fazerem. 


No período de tarde os planos voltaram a ser a dois. De novo “segue a minha roda e mantém-te o mais próxima possível de mim” continuou a ser o foco. Apenas foi acrescentado um “vê só se aceleras um pouco mais, pois estás a ir mesmo muito devagar!” eu sabia que estava mesmo a ir a passo de caracol e que tenho muito mais para dar, por isso, aproveitei o facto de estar em segurança, com o Pedro comigo, e entreguei-me ao instinto e ao que poderia ir melhorando, sempre. 

A LEVEZA DO VENTO 
Fomos até Bucelas, fazendo um pouco de Via rápida e entrando em estrada nacional, com algumas curvas desafiantes e piso algo diversificado ao nível da aderência. Atenta a todos os sinais que ia vendo, do Pedro, à minha frente, pude comprovar que a moto é, de facto, uma excelente surpresa. Entrega-nos facilidade de condução, conforto e uma agilidade muito boa no manuseamento da caixa de velocidades. A leveza da moto sente-se, e bem, ao ponto até de levar o meu tempo a perceber que não me vai fugir pelas pernas, nas vias mais rápidas. O meu olhar ia sobretudo na estrada, e nos espelhos, mas fundamentalmente em seguir a roda da moto do Pedro. 


Por falar nisso…, já que também ele fez umas largas dezenas de quilómetros nesta Voge 350AC, perguntei-lhe qual a sensação com que ficou da moto: pequena, leve, ágil, fácil, acessível, divertida e há quem diga até bonita. Honestamente, a Voge 350 AC foi uma excelente surpresa. Nós, motociclistas supostamente experientes, temos uma tendência algo natural para subvalorizar ou mesmo desvalorizar motos deste segmento. Sucede que como muitas outras coisas na vida, nada como experimentar e fazer o nosso próprio juízo. Não gostamos dos instrumentos que nalguns momentos do dia se tornam ilegíveis nem dos espelhos dificilmente ajustáveis e facilmente desajustáveis. Gostamos do comportamento. Da ciclistica muito afinada - como já é habitual na jovem marca do gigante Loncin. Do motor vivo e disponível. Da travagem mordaz e eficaz. Das dimensões anoréticas. A vida na cidade fica mais rápida e ainda mais instagramavel com esta 350 AC. Uma moto merecedora de pneus de qualidade

CONFIÁVEL 
Quero aqui salientar que ter alguém que nos encoraja, que tem paciência para uma recém encartada que, aos 47 anos, dá milhentos novos comandos ao cérebro e por isso está na fase de tartaruga, ajuda muito. Não tenho palavras para agradecer a motivação e indicações que tenho recebido, por parte do Pedro, sobre o que ir fazendo, nunca esquecendo de ir assinalando, com um “like” sempre que mostro melhoramentos. Dar indicações explicando os motivos delas ajuda imenso, e nisso, o Pedro está a ser absolutamente extraordinário e fundamental. 

O resto da semana foi toda feita de moto! Lá ia eu, devidamente equipada, a preparar mentalmente os meus percursos, dar as minhas voltas semanais. De dia para dia vou notando mais confiança, não só em mim, mas também na moto! É mesmo muito agradável, a Voge 350AC e só posso agradecer por ter sido a minha primeira moto a permitir-me fazer boa figura pois, dito por uma amiga com quem fui almoçar “ganda pinta, a moto. É mesmo gira, e fica-te muito bem!”. 

Quanto à grande questão que se coloca, “será esta Voge 350AC a moto ideal para recém encartados?”, tendo em conta a experiência que tenho, senti-me muito segura e, acima de tudo, confiante em ir dando um passo novo, cada vez que pegava na moto.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Experiência CFMoto 450NK

É absolutamente notável a evolução e crescimento da CFMoto em Portugal e no mundo. Na verdade, começamos a olhar para a marca apenas há pouco mais de três anos. Ninguém, claramente ninguém, estaria apto a dizer que na viragem para 2024 a CFMoto estaria neste (cada vez mais elevado) patamar de notoriedade, resultados e paixão. Sabíamos que as curvas de aprendizagem e evolução seriam lestas. Todavia ninguém seria capaz de prever que fossem assim tão rápidas. 


É inegável que a marca, durante este ano que agora termina, beneficiou do “toque de Midas powered by” Multimoto. Como inegável é que as motos pensadas e produzidas nas fábricas a oriente, geram cada vez mais expectativa e até desejo. E para encerrar este primeiro ano de ligação entre a CFMoto e a notável Multimoto, esta decidiu fazer a Apresentação Nacional do novo modelo 450NK. Apresentação que teve a curiosidade de acontecer bem junto ao solístico de inverno. 


Quem segue o ESCAPE sabe que gostamos de “disrupcionar” - como agora se diz - estes momentos. Atomiza-los. No bom sentido, no sentido positivo. Obviamente. Assim, se esperam encontrar um teste do tipo “lenga-lenga ficha técnica” à novíssima CFMoto 450NK terão de visitar outro estabelecimento. Pedimos desculpa pelo incómodo. 


Aqui, vamos tentar reduzir a escrito o que sentimos naqueles dias onde o outono se despedia enquanto abraçava o nascituro inverno que agora lhe sucede. Porque não um teste, Pedro? Porque as motos à nossa disposição eram absolutamente novas, porque as horas de sol nestes dias são parcas e geladas limitando o número de quilómetros efectuados e, sobretudo, porque na opinião deste ESCAPE estes são momentos bem mais ricos do ponto de vista humano e social do que um mero passeio com uma máquina.


Sabiam que a palavra solstício deriva de latim “sol” combinado com “sistere” e que em bom rigor significa qualquer coisa como “sol parado”? Verdade! Solstício é aquele momento em que o Sol, durante o seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Os solstícios ocorrem duas vezes por ano: em Junho e Dezembro, variando o dia e hora exactos. Quando ocorre no inverno, significa que a duração da noite é a mais longa do ano. Logo, nessa data o dia é o mais curto do ano. O solstício de inverno ocorreu recentemente, no dia 22 de Dezembro, pelas 03:27, precisamente. O que significa que a Apresentação Nacional da CFMoto 450NK calhou, efectivamente, mais hora menos hora, naquilo que podemos chamar de dia mais curto do ano. O mais curioso ainda é que nalgumas regiões rurais da gigantesca China, por estes dias, celebra-se o Dongzhi Festival – junta-se família e amigos e saúda-se a chegada do Inverno à mesa – que se aproxima em importância de celebração ao Ano Novo Chinês. Celebremos. 


O pitoresco Costa do Sal Hotel Boat Lounge foi o nosso quartel-general. O Costa do Sal é agora um navio-hotel atracado na Ria de Aveiro junto à Gafanha da Encarnação – não muito longe da Costa Nova e de Aveiro – e é o produto da renovação pela Martifer do Invicta, uma embarcação que tinha sido comprada pela Douro Azul há 25 anos e esteve na Expo’98 de Lisboa como hotel flutuante. 


O grupo de que saiu de Lisboa a meio da tarde, chegou já noite escura à Gafanha da Encarnação. A CFMoto 450NK foi então apresentada pelos vários responsáveis da Multimoto. Seguiu-se um brinde e um jantar a bordo do simpático navio. Deitar cedo que o dia seguinte para além de curto em horas de sol prometia ser ventoso apesar de solarengo. 


Na manhã seguinte o sol, de facto, compareceu à chamada, todavia a sensação térmica era tão baixa que até o próprio astro rei aparentava tremer de frio. Aquecidas as 450NK, partimos aos primeiros raios de sol para umas dezenas de quilómetros marcadamente urbanos. Seguiram-se outras tantas de autoestrada rumo ao Carvoeiro e a uma Estrada Nacional tão incrível quanto esquecida, a Nacional 16 (N16). 


Já junto ao Rio Vouga, não muito longe da foz do Rio Mau, o nevoeiro resistia no vale. O asfalto muito molhado ameaçou os motociclistas e foi tempo de rumar a um segredo bem guardado para uma solarenga sessão de imagem, a Barragem de Ribeiradio. Assim se passou, num ápice, a manhã. O rápido e simples almoço foi na Gare da Paradela, uma antiga estação de comboios da Linha do Vouga transformada em agradável café. Aqui os amigos e outros colegas da “radio, TV e disco e da cassete pirata” - estou a citar o eterno Serafim Saudade, não vos zangais já comigo – aproveitaram para fazer o seu trabalho. 


Dali, o desejo de todos seria certamente rumar a São Pedro do Sul pela épica N16. No entanto voltamos a “bater de frente” com o inevitável solstício. Brevemente o sol desceria de forma dramática no horizonte. O mesmo sol que acabou por secar o troço feito de manha da N16 rumo ao forte da Barra já em Aveiro, proporcionando momentos intensos de condução. 


Como podem ler foi um dia cheio e intenso onde podemos travar contacto com a CFMoto 450NK, num percurso relativamente curto todavia plenamente ecléctico e revelador. A 450NK é uma leve naked desportiva. As linhas da moto são desafiadoras, agressivas até, ao bom estilo jovem “café racer século XXI”. O conjunto pesa cerca de 170 Kg e recorre ao motor bicilindrico paralelo já utilizado na desportiva 450SR – 449cc, 47CV, 40Nm. 


A nota imediata de destaque é uma sonoridade soberba com uma nota de escape que nos remete para um qualquer circuito de velocidade. A moto é baixa e revela-se muito equilibrada. De fácil e imediata adaptação, agradará a um leque muito amplo de utilizadores incluindo jovens e muito jovens senhoras motociclistas, desde logo pela posição de condução inclusiva


Ao motor vivo e sonoro a ciclística responde com afirmação. Quando submetidas a stress, o acerto da suspensão dianteira revela-se algo duro. Ficámos com a sensação que o eixo dianteiro pode melhorar no futuro. Nada a opor no eixo traseiro. Sublinhamos que as motos tinham apenas alguns quilómetros. Um conjunto tão ágil e divertido é merecedor, na opinião deste ESCAPE, de uma travagem - origem J.Juan – mais mordaz e agressiva ao nível superior de todo um conjunto que, dizem alguns, oferece o melhor motor da sua classe. 


Enquanto os robalos selvagens estavam no forno (ao sal) do Restaurante Clube de Vela na Costa Nova do Prado, regressamos ao nosso quartel-general para aquecer um pouco o esqueleto. Com a baixa sensação térmica acabamos todos por desenvolver uma fome digna de leviatã – o bíblico monstro dos mares. A espera valeu a pena. Pois tivemos o oceano atlântico connosco à mesa. 


Guerreira e urbana, a CFMoto 450NK revelou prontidão e agilidade no ataque ao asfalto retorcido e oferece-nos horas de absoluto divertimento. A marca solicita uma transferência bancária de 5.790€ para que a levem convosco na batalha diária e aqui (link), no belo e prático site da marca, podem conhecer melhor as suas especificações técnicas

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Benelli TRK 702 X à prova

Quarenta horas de motociclismo desafiador, intenso e apaixonado. Em síntese, foi assim no passado mês de Outubro aqui (link) na Benelli Adventure Experinece. Desses dias trouxemos memórias de uma moto divertida com linhas impactes. Gostamos mais da versão X que nos pareceu mais afinada e eficaz. Todavia faltava fazer uma prova mais ecléctica, com tempo e asfalto secos, onde fosse possível dar o salto para a terra. 

Foto: Gonçalo Fabião

Aqueles dias de temporal desfeito em Outubro passado, deixaram-me a sensação que esta moto valia muito mais do que foi possível provar no evento da marca, limitado por condições meteorológicas desafiantes – quando não foram verdadeiramente avassaladoras. A marca aceitou o desafio do ESCAPE. E agora podemos oferecer uma visão mais completa do que é e do que vale a Benelli TRK 702 X. Aliás, os leitores deste blogue não esperam menos do que rigor. E isso é muito bom. 

Foto: Gonçalo Fabião

Falar ou escrever sobre Benelli é sempre muito bom pois gera paixão. Amor e ódio andam de mãos dadas e quando o olhar descansa na TRK 702 X o barulho estala. Quem feio ama, bonito lhe parece, diz o ditado. Sim, as linhas da moto são desafiantes. Cada qual encontra aqui referências à marca que mais lhe convém. Normal. Querem saber a minha opinião? Eu gosto. Como lhe fica bem, TRK 702 X, esse dramatismo. 

FRANCAMENTE APTA 
Nestas linhas arrojadas a marca monta num quadro tipo treliça um motor bicilindrico paralelo (698cc, 70 CV, 70 Nm). O conjunto tem um deposito de cerca de 20 litros de combustível e não é propriamente um conjunto leve, pesando 235 Kg em ordem de marcha. Tal como o motor, suspensões e travagem são desenvolvidas pela marca. Na frente a opção foi por uma jante raiada de 19’. 

Foto: Gonçalo Fabião

A TRK 702 X revela de imediato uma posição de condução bastante correta. A habitabilidade é boa graças a uma protecção aerodinâmica decente e eficazes “handguard”. O painel de instrumentos é espartano, todavia legível em todas as circunstâncias. 

Foto: Gonçalo Fabião

A revelação começa logo na cidade onde encontramos uma moto perfeitamente adaptada ao ritmo diário, muito graças ao seu são equilíbrio. Optamos por rodar com malas laterais, todavia sem a inestética top case. 

Foto: Gonçalo Fabião

A presença daquela revela-se algo elevada face ao centro de gravidade da moto. E tal é suficiente para retirar algum equilíbrio ao conjunto. Apenas foi por nós utilizada quando verdadeiramente necessária. Nos espaços apertados a Benelli TRK 702 X surpreende pela forma como se adapta ao terreno urbano. A utilização é fácil e o comportamento ágil e facilitador. 

Foto: Gonçalo Fabião

Na estrada comprovamos a elasticidade da unidade motriz. Os regimes médios são a praia deste motor que é satisfatório para uso diário. Sentimos alguma vibração nos poisa pés sempre que elevávamos o ritmo em autoestrada para lá do que a lei estradal permite. No entanto, o que queríamos mesmo era ver o fim do asfalto. A intuição dizia-nos que esta moto seria uma bela surpresa por maus caminhos. 

Foto: Gonçalo Fabião

E a intuição estava…, certa. Aqui notamos uma enorme evolução face a TRK 502 X (recordar aqui). Não querendo estabelecer comparações muito menos comparativos, é, todavia, impossível deixar de sentir que as suspensões já admitem aqui uma boa dose de aventura off-road, ainda que o eixo dianteiro possa vir a ser melhorado ao nível da eficácia de amortecimento.

Foto: Gonçalo Fabião

O equilíbrio mantém-se. E a condução apenas não é mais viva e efectiva pois não é possível desligar o auxílio ABS na roda traseira. Uma mordacidade mais pronta na travagem seria igualmente apreciada. 

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E a Benelli TRK 702 X é isto. Uma moto polivalente. Agrada a todos os que a provam. Ao menino. À menina. Ao urbano. Ao modesto viajante. Aquele que gosta de passear no quintal poeirento. Ao sonhador com mundos de aventura. E agrada ainda ao motociclista experiente que deseja ter algo menos corpulento na sua garagem. 

Foto: Gonçalo Fabião

A 702X agrada ainda pela sua economia. Esta Brown Orange Really Nice -nome da cor por nós agora inventado :) – solicitou pouco mais de quatro litros e meio de sumo doirado de dinossauro por cada cem quilómetros de boa disposição oferecida, pedindo a marca uma transferência bancaria de 7.890€ para a levarem convosco.

Foto: Gonçalo Fabião

Notem ainda que a marca oferece, por estes dias, o conjunto de malas originais Benelli. A Campanha é reservada aos modelos TRK 702 X e TRK 702 matriculados até 31/12/2023, nos concessionários aderentes e limitado ao stock existente.
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